IMPÉRIO ROMANO
Império Romano foi um Estado que se desenvolveu a partir da península Itálica durante o período pós-republicano da antiga civilização romana, caracterizado por uma forma autocrática de governo e de grandes propriedades territoriais na Europa e em torno do Mediterrâneo
Os 500 anos de idade da República Romana que o precedeu, foram enfraquecidos e subvertidos por várias guerras civis. Muitas datas são comumente propostas para marcar a transição da república ao império, incluindo a data da indicação de Júlio César como ditador perpétuo (44 a.C.), a vitória de seu herdeiro Otaviano na Batalha de Áccio (2 de setembro de 31 a.C.), ou a data em que o senado romano outorgou a Otaviano o título honorífico Augusto (16 de janeiro de 27 a.C. Assim, Império Romano tornou-se a designação utilizada, por convenção, para referir ao Estado romano nos séculos que se seguiram à reorganização política efectuada pelo primeiro imperador, César Augusto. Embora Roma possuísse colónias e províncias antes desta data, o Estado pré-Augusto é conhecido como República Romana.
A expansão romana começou na época da república, mas o império alcançou sua maior extensão sob o imperador Trajano: durante o seu reinado o Império Romano controlava aproximadamente 6,5 milhões de km² da superfície terrestre. Por causa da vasta extensão do império e sua longa duração, as instituições e a cultura de Roma tiveram uma profunda e duradoura influência sobre o desenvolvimento dos idiomas, religião, arquitetura, filosofia, direito e formas de governo nos território governados, particularmente a Europa e, por meio do expansionismo europeu, em todo o mundo moderno.
No final do século III, Diocleciano estabeleceu a prática de dividir a autoridade entre quatro co-imperadores, a fim de melhor proteger o vasto território, pondo fim à crise do terceiro século. Durante as décadas seguintes o império era frequentemente dividido ao longo de um eixo Ocidental/Oriente. Após a morte de Teodósio I em 395, o império foi dividido pela última vez. O Império Romano do Ocidente caiu em 476 quando Rômulo Augusto foi forçado a abdicar ao chefe militar germânico Odoacro. O Império Romano do Oriente ou Império Bizantino, em 1453 terminou com a morte de Constantino XI e da tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos liderados por Mehmed II
As duas datas indicadas como início (27 a.C.) e fim (395) convencionais de um Império Romano unitário, como frequentemente sucede em definições de períodos históricos, são puramente arbitrários. Em particular por três razões: seja porque não houve jamais um fim verdadeiro e formal da res publica romana, cujas instituições jamais foram abolidas, mas simplesmente transferido o poder efetivo ao imperador; seja porque, nos 422 anos desse intervalo, se sucederam duas fases de organização e legitimação do poder imperial profundamente diferentes, o principado e o dominato; seja porque, mesmo depois da divisão do império em duas partes, as instituições continuaram a sobreviver, uma até a deposição do último césar do Ocidente, Rômulo Augusto, em 476 (ou mais precisamente até a morte do seu predecessor, Júlio Nepos, que se considerava ainda imperador), a outra se perpetuando por mais um milênio na entidade mais tarde chamada, por convenção, de Império Bizantino. O ano de 476 foi considerado, por convenção, como data de passagem entre a Antiguidade e a Idade Média.
Os historiadores fazem a distinção entre o principado, período que vai de Augusto até a crise do terceiro século e o domínio ou dominato, que se estende de Diocleciano até a queda do Império Romano do Ocidente. Durante o principado (do latim princeps, "primeiro"), a natureza autocrática do regime era velada por designações e conceitos da esfera republicana, manifestando os imperadores relutância em se assumir como poder imperial. No dominato (de dominus, "senhor"), pelo contrário, estes últimos exibiam claramente os sinais do seu poder, usando coroas, púrpuras e outros ornamentos simbólicos do seu status.
Ainda que não tenha sido o mais vasto império que existiu, título que pertence ao Império Mongol, o Império Romano é considerado o maior em termos de gestão e qualidade do território, de organização sociopolítica e de importância da marca deixada na história da humanidade. Em todos os territórios do império, os romanos construíram estradas, cidades, pontes, aquedutos, fortificações, exportando assim o seu modelo de civilização e, com o tempo, assimilando as populações e civilizações sujeitadas, em um processo tão profundo que, por séculos após o fim do império, estes povos continuaram a definir-se romanos. A civilização nascida sobre as margens do Tibre, crescida e difundida na época republicana e desenvolvida plenamente na época imperial está na base da atual civilização ocidental.
Além do Império Romano do Oriente, único Estado sucessor a pleno título do Império Romano, outras entidades estatais reivindicaram esse título: no ocidente, o Reino Franco e o Sacro Império Romano-Germânico e, no oriente, o Império Búlgaro primeiro e depois o Império Russo dos czares, que continuaram a usar os títulos adotados do Império Romano. Ainda hoje, muito das instituições políticas, sociais e jurídicas no mundo inteiro se inspiram na Roma antiga.
O império surgiu como consequência do esforço da defesa da cidade em relação às outras cidades vizinhas, e da expansão crescente da República Romana durante os séculos III e II a.C.. Segundo alguns historiadores, a população sob o domínio de Roma aumentou de 4 milhões em 250 a.C. para 60 milhões em 30 a.C., o que ilustra como Roma teve o seu poder ampliado nesse período, de 1,5% da população mundial, para 25%.
Nos últimos anos do século II a.C., Caio Mário transformou o exército romano num exército profissional, no qual a lealdade dos soldados de uma legião era declarada ao general que a liderava e não à sua pátria. Este facto, combinado com as numerosas guerras que Roma travou nos finais da República (invasão dos Cimbros e Teutões, Guerras Mitridáticas, entre outras, a culminar nas guerras civis do tempo de Júlio César e Augusto) favoreceu o surgimento de uma série de líderes militares (Lúcio Cornélio Sula, Pompeu, Júlio César), que, apercebendo-se da força à sua disposição, começam a utilizá-la como meio de obter ou reforçar o seu poder político.
As instituições republicanas encontravam-se em crise desde o princípio do século I a.C., quando Sula quebrou todas as regras constitucionais ao tomar a cidade de Roma com o seu exército, em 82 a.C., para se tornar ditador vitalício em seguida. Sula renunciou e devolveu o poder ao senado romano, mas no entanto, o precedente estava lançado.
Esta série de acontecimentos culminou no primeiro triunvirato, um acordo secreto entre Júlio César, Pompeu e Crasso. Tendo este sido desfeito após a derrota de Crasso em Carrhae (atual Harã) (53 a.C.), restavam dois líderes influentes, César e Pompeu. Como Pompeu estava no lado do senado, este declarou César "inimigo de Roma", ao que César respondeu, atravessando o Rubicão e iniciando a Guerra Civil. Tendo vencido Pompeu em Farsália (agosto 48 a.C.) e as restantes forças opositoras em Munda (45 a.C.), tornou-se efectivamente a primeira pessoa a governar unipessoalmente Roma, desde o tempo da Monarquia. O seu assassinato pouco tempo depois (março 44 a.C.), às mãos dos conspiradores liderados por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, terminou esta primeira experiência de governo unipessoal do Estado romano.
Por esta altura, já a república tinha sido decisivamente abalada, e após a derrota final dos conspiradores, o surgimento do segundo triunvirato, entre Otaviano, Marco António e Lépido, e a sua destruição na guerra civil seguinte, culminando na decisiva Batalha de Áccio (31 a.C.), deixou Otaviano como a única pessoa com poder para governar individualmente Roma, tornando-se efectivamente no primeiro imperador romano, fundando uma dinastia (Júlio-Claudiana) que só a morte de Nero (68 d.C.) viria a terminar.
Uma vez que o primeiro imperador, César Augusto, sempre recusou admitir-se como tal, apresentando-se sempre como defensor das instituições republicanas, é difícil determinar o momento em que o Império Romano começou. Por conveniência, coloca-se o fim da República em 27 a.C., data em que Otaviano adquiriu o cognome César Augusto e começou, oficialmente, a governar sem parceiros. Outra corrente de historiadores coloca o princípio do império em 14 d.C., ano da morte de Augusto e da sua sucessão por Tibério.
Nos meios académicos, discutiu-se bastante a razão pela qual a sociedade romana, habituada a cerca de cinco séculos de república, aceitou a passagem a um regime monárquico sucessório. A resposta centra-se no estado endêmico de guerra civil que se vivia nos anos prévios a Augusto e no longo reinado de quarenta e cinco anos que se seguiu, notável pela paz interna. Com a esperança de vida média em cerca de quarenta e cinco anos, à data da morte de Augusto, o cidadão romano médio não conhecia outra forma de governação e estava já preparado para aceitar um sucessor.
O reinado de Augusto é considerado por todos os historiadores como um período de prosperidade e expansão. A nova estrutura política criada por Augusto designa-se por principado, sendo o chefe do império designado por princeps civium (o primeiro dos cidadãos) e ao mesmo tempo princeps senatus (o primeiro do senado). O termo princeps está na origem da palavra "príncipe", que não era o título do chefe do Estado. O título era "césar" e foi este que Augusto e seus sucessores adoptaram.
Augusto era também comandante-chefe do exército, decidia a guerra ou a paz e auto-nomeou-se "tribuno por toda a vida". Augusto, que não era especialmente dotado para a estratégia, mas tinha bons generais como Agripa na sua confiança. Anexou oficialmente o Egito, que já estava sob domínio romano havia 40 anos, toda a península Ibérica, a Panónia, a Judeia, a Germânia Inferior e Superior e colocou as fronteiras do império nos rios Danúbio e Reno, onde permaneceram por 400 anos.
O império que Augusto recebeu era vasto e heterogêneo, com várias línguas e vários povos. O grego era a língua mais falada nos territórios orientais, e o latim progredia pouco nestes territórios, mas nos territórios ocidentais era a língua mais falada. Augusto passou a tratar todos os habitantes do império como iguais e visitou várias zonas para verificar quais os problemas de cada província, assim estas floresceram e atingiram o máximo do seu desenvolvimento.
Os sucessores de Augusto são conhecidos como a Dinastia Julio-Claudiana (que inclui ele próprio), devido aos casamentos idealizados por ele entre a sua família, os Julii, e os patríciosClaudii. Nos primeiros anos do reinado de Tibério, não houve grandes mudanças políticas ou organizativas em relação aos princípios estabelecidos por Augusto. No entanto, com o passar do tempo, a instabilidade surgiu dentro da própria família imperial. Tibério tornou-se paranoico com possíveis conspirações e tentativas de golpe de estado, chegando, em 26 d.C., a retirar-se para a ilha de Capri de onde governou por procuração até ao fim da vida. Em consequência, mandou matar ou executar grande parte da sua família e senadores de destaque, provocando uma sensação de desconforto generalizada. O seu sucessor, Calígula, cresceu neste ambiente e mostrou-se um imperador igualmente instável.
Na organização do Estado, pouco mudou em relação ao estabelecido por Augusto. Apenas Cláudio introduziu algumas reformas e procurou a prosperidade do império, talvez porque à data da sua ascensão ao trono era já um homem maduro. Cláudio foi ainda o responsável pela iniciativa da invasão romana das ilhas britânicas em 43, que se saldou pela adição de mais uma província ao império. Em 64 d.C., durante o reinado de Nero, Roma foi consumida por um violento incêndio (do qual o próprio imperador é muitas vezes erroneamente considerado culpado) e começaram as perseguições aos cristãos. Os Julio-Claudianos foram eficazes em espalhar o culto imperial. Alguns deles, como Cláudio, foram deificados durante a sua vida e elevaram à dignidade divina muitos dos seus familiares (alguns subsequentemente assassinados).
Depois do suicídio de Nero, Sérvio Sulpício Galba, um velho senador pertencente aos Sulpicii, uma velha família aristocrática, tornou-se imperador por nomeação senatorial. O seu reinado não começou bem. Durante a viagem da Hispânia para Roma, Galba não hesitou em espalhar o caos e a destruição pelas cidades que não lhe prestaram honras imperiais de imediato. Em Roma, substituiu grande parte das chefias militares e depressa se revelou tão paranoico como os seus antecessores. A sua recusa em conceder os prémios monetários às legiões e à guarda pretoriana que o apoiaram serviu de impulsionador à organização de um golpe de estado e, em janeiro de 69 d.C., Galba foi assassinado pelos pretorianos no Fórum, juntamente com o seu sucessor designado. Em Roma, saudou-se Marco Sálvio Otão como novo imperador, mas no Reno as legiões aclamaram Aulo Vitélio que de imediato iniciou a marcha para Roma. Em abril, Vitélio derrotou Otão e tornou-se o único imperador, embora pouco tempo depois o exército estacionado na Judeia aclamasse o seu comandante Vespasiano como imperador. Durante a segunda metade do ano, todas as províncias foram-se declarando por Vespasiano e, então, Vitélio perdeu terreno. Finalmente, a 20 de dezembro, as tropas de Vespasiano entraram em Roma e assassinaram Vitélio. Vespasiano tornou-se então o único imperador e deu início à dinastia Flaviana.
Quando em 96 d.C. Domiciano foi assassinado, Roma encontra-se bastante céptica quanto à validade do modelo dinástico e a sucessão imperial evoluiu para o conceito do mais apto. Esta mudança deu origem ao período dos cinco bons imperadores.
Depois do assassinato de Domiciano, o senado nomeou Nerva como imperador romano. Apesar de ser já de meia idade e de não ter descendentes, Nerva era um homem considerado capaz, quer do ponto de vista militar quer do ponto de vista administrativo, mas sobretudo racional e confiável. A falta de filhos revelou ser uma vantagem, pois a sua sucessão foi determinada pelo valor do candidato e não por critérios familiares - embora já Trajano tenha sido formalmente adoptado por Nerva. Trajano, Adriano e Antonino Pio seguiram a mesma política de nomear o sucessor mais apto, o que resultou num período de estabilidade conhecido como os cinco bons imperadores.
Durante o reinado destes cinco homens, Roma prosperou e atingiu o seu pico civilizacional, ao ponto de alguns analistas defenderem que o nível civilizacional alcançado durante este período só foi novamente alcançado na Inglaterra do século XVIII. Trajano foi o responsável pela extensão máxima do império em 117 d.C., ao estender a fronteira oriental até incluir a Mesopotâmia na alçada de Roma. O seu sucessor, Adriano, soube manter a enorme área do império e reconhecer que não valia a pena estendê-lo mais. Deu as conquistas por terminadas e construiu a muralha de Adriano no Norte de Inglaterra como símbolo do limite do império. Este período de manutenção, por oposição à conquista, ficou conhecido como aPax Romana.
O ciclo de prosperidade terminou quando Marco Aurélio designou, para sucessor, não o homem mais apto, mas o seu filho Cómodo, que se sabia pouco à altura do seu pai e seus antecessores. Como na dinastia Julio-Claudiana (Nero) e Flaviana (Domiciano), um período de prosperidade foi seguido por uma governação errática por um homem paranóico, neste caso Cómodo, que incentivaria a revolta dos seus súbditos. Cómodo foi assassinado em 192 d.C., mas o império caiu numa grave crise dinástica e social.
Tendo-se tornado imperador, Septímio Severo tornou o império efectivamente numa monarquia militar, em mais um passo na direcção do Dominato; teve dois filhos, Caracala e Geta que, após a sua morte (211), digladiaram-se entre si, tendo Caracala assassinado Geta (dezembro de 211).
Sob Alexandre Severo, o império prosperou mas começaram os primeiros problemas: invasão dos persas sassânidas (233), invasões de povos germânicos e o imperador, que preferia negociar a paz em troca de tributo do que travar a guerra, foi morto na Mogúncia (março(?) de 235), junto com a sua mãe, por tropas revoltadas ao verem tanto ouro ser dado aos bárbaros.
O fim do século II foi marcado por mais uma guerra civil de sucessão. Septímio Severo acabou por assegurar a coroa imperial e levar o império para um breve período de estabilidade. Os seus sucessores, no entanto, não tiveram a mesma sorte. Entre a morte de Severo em 211 e o início da tetrarquia em 285, o império teve 28 imperadores, dos quais apenas dois faleceram por causas naturais (de peste). Contemporaneamente, estão registados 38 usurpadores romanos, dos quais muitos se tornaram imperadores de pleno direito. Para além da crise política endémica, o século III foi marcado pelo início das invasões dos povos bárbaros que habitavam as zonas fronteiriças do império.
Durante os cinquenta anos seguintes, o império sofreu usurpações, derrotas e fragmentação; imperadores seriam assassinados, mortos em batalha ou pelos seus rivais, num desespero para encontrar uma solução e por fim, surgiria o Dominato, a monarquia absoluta, a qual removeria os poucos traços republicanos que Roma ainda conservava e dar ao império um último fôlego.
Após a morte de Alexandre Severo, o império caía uma vez mais nas mãos dos generais. Maximino, o Trácio foi proclamado imperador pelas tropas e durante três anos prosseguiu com a guerra, devastando os povos germânicos. Como este esforço militar exigia muito dinheiro, começaram a aumentar os abusos por parte dos funcionários imperiais em relação aos impostos
Entretanto a situação do império complicava-se. No Oriente, Gordiano III combateu o Império Sassânida, mas foi derrotado e morto na Batalha de Misiche (244). O seu prefeito do pretório, Filipe, proclamou-se imperador.
A recuperação do império veio por fases: Cláudio II, o sucessor de Galiano, começou por infligir uma grande derrota aos godos (270) mas, atingido pela peste, morreu antes de poder restaurar o império. Aureliano, o seu sucessor, foi mais bem sucedido. Em quatro anos, reincorporou o território do Império das Gálias e derrotou Zenóbia, recuperando assim o Oriente. Sinal dos tempos, dotou Roma da sua primeira muralha desde as invasões gaulesas que haviam ocorrido mais de 650 anos antes. Administrador duro e competente, estaria prestes a iniciar uma guerra contra os sassânidas, quando foi assassinado (275). Com ele, pela primeira vez, os imperadores romanos passaram a ser adorados como deuses em vida.
Após alguns anos, em que o império mergulhou uma vez mais na anarquia e na invasão, surgiu um novo e eficaz imperador, Probo (276-282), que conseguiu estabilizar a situação. Após o seu assassínio e os breves reinados de Caro e dos seus filhos, surgiu o homem que enfim pôs ordem no império:Diocleciano (285).
A Tetrarquia foi um sistema de governo criado pelo imperador Diocleciano, como forma de resolver sérios problemas militares e econômicos do Império Romano. Diocleciano dividiu o seu poder sobre o império entre os sectores orientais (pars Orientis) e ocidentais (pars Occidentis). Manteve o controle pessoal do sector leste e o seu colega Maximiano controlou o ocidente. Diocleciano não dividiu propriamente o poder com seu companheiro de armas Maximiliano, pois, na realidade, Diocleciano estava colocado em posição superior à de Maximiliano. A partir de então, o império passou a ter dois augustos, cada qual com exército, administração e capital próprios, embora Diocleciano continuasse a ser o chefe do Estado, representando a unidade do mundo romano.
Em 305, Diocleciano retirou-se à vida privada e induziu Maximiano a fazer o mesmo.
O Império Romano do Ocidente sofreu invasão dos povos bárbaros e, já enfraquecido internamente, caiu em 476 com a deposição do imperador Rômulo Augusto. Outros reis estabeleceram-se em Roma, embora não mais usassem o título de "imperador romano". O Império Oriental, com capital em Constantinopla, continuou a existir por quase mil anos, até 1453.
Teodósio I foi o último imperador a reinar sobre todo o império. Após sua morte em 395, seus dois filhos Arcádio e Honório herdaram as duas metades: Arcádio tornou-se governante no Oriente, com a capital em Constantinopla, e Honório tornou governante no Ocidente, com a capital em Mediolanum (atual Milão), e mais tarde em Ravena. O Estado romano continuaria com dois diferentes imperadores no poder até o século V, embora os imperadores orientais se consideravam governantes do todo. O latim era usado nos documentos oficiais tanto, se não mais, que o grego. As duas metades eram nominalmente, cultural e historicamente, se não politicamente, o mesmo estado.
O centro administrativo do império tendia a voltar-se mais para o Oriente, por múltiplas razões. Primeiro pela necessidade de defesa das fronteiras orientais; depois porque o oriente havia se tornado a parte econômica mais vital do domínio romano; por fim Roma era uma cidade rica de vestígios pagãos, o que agora era inconveniente num império cristão: seus edifícios, sua nobreza senatorial, apegada à religião tradicional.
Assim Constantino I decretou a construção de uma nova capital, nas margens do Bósforo, onde havia a antiga fortaleza grega de Bizâncio, num ponto de grande importância estratégica, nas proximidades de dois importantes setores da limes: a região do baixo Danúbio e a fronteira do Império Sassânida.
A nova cidade, que recebeu o nome de Constantinopla, isto é, "cidade de Constantino", foi concebida como uma "nova Roma" e rapidamente tornou-se o centro político e econômico do império. Sua criação teve repercussões também no plano eclesiástico: enquanto em Roma a Igreja Católica adquiriu mais autoridade, em Constantinopla o poder civil controlou a Igreja. O bispo de Roma pôde assim consolidar a influência que já possuía, enquanto em Constantinopla o bispo baseava seu poder no fato de ser bispo da capital e no fato de ser um homem de confiança do imperador.
A vida política, econômica e social durante os primeiros séculos do império gravitava em torno da Urbe, termo latino para "cidade", como se referiam a Roma. Roma era a sede da autoridade imperial e da administração, principal lugar de trocas comerciais entre Ocidente e Oriente, além de ser de longe a cidade mais populosa do mundo antigo, com mais de um milhão de habitantes. Por isso, milhares de pessoas afluíam diariamente à cidade, por mar e terra, enriquecendo-a de artistas e escritores de todas as regiões do império.
Existia uma clara diferença entre viver em Roma ou nas províncias: os habitantes da capital gozavam de privilégios, enquanto o peso fiscal era reservado pesadamente às províncias. Também entre a cidade e o campo, a qualidade de vida era melhor e mais agitada para os citadinos, que usufruíam de serviços públicos como termas romanas, aquedutos, teatros e circos.
Com a crise do terceiro século, recursos foram deslocados da região do Mediterrâneo para as regiões de fronteiras, onde os imperadores precisavam passar mais tempo. Assim, no século III, cidades como Mediolanum (atual Milão) Augusta Treverorum (atual Trier), no vale do rio Mosela, e Sirmium (atual Sremska Mitrovica, na Sérvia), Naissus (atual Niš) e Serdica (atual Sófia) na região do Danúbio, Nicomedia (atual İzmit) na Ásia Menor serviram como capitais temporárias do império.
No século V, como desejado antes por Constantino I, Constantinopla (atual Istambul) se impôs devido ao relacionamento de força entre um Oriente ainda próspero e um Ocidente às voltas com hordas bárbaras e sempre prostrado pela crise econômica, política e demográfica.
Depois da crise, que paralisou o império nos decênios centrais do século III, as fronteiras se tornaram mais seguras a partir do reinado de Diocleciano (284-305), o qual introduziu profundas mudanças na administração e no exército. O império pôde assim viver um período de relativa estabilidade ao menos até a batalha de Adrianópolis (378) e, no Ocidente, até os primeiros anos do século V, quando iniciaram as perigosas incursões por parte dos visigodos de Alarico I (401-402) que continuaram até culminarem no célebre saque de Roma em 410, referido pelo contemporâneo Agostinho de Hipona, como um acontecimento notável da época e, por alguns, como o fim do mundo. Os últimos dias do Império Romano do Ocidente (o do Oriente sobreviveu por mais um milênio) foram em um clima de morte e miséria pela população de muitas regiões do império, assoladas por guerra, carestia e epidemias. A consequência final foi a queda da própria estrutura imperial.
Nos últimos anos, temas relativos às demografias de sociedades antigas têm recebido cada vez mais atenção acadêmica. As estimativas do tamanho da população do Império Romano no seu auge demográfico agora variam entre 60 e 70 milhões ("baixa contagem") até mais de 100 milhões de habitantes ("alta contagem"). Aderindo ao valor mais tradicional de 55 milhões de habitantes, o Império Romano constituiu o mais populosa da unidade política ocidental até meados do século XIX e permaneceu insuperável em uma escala global por todo o primeiro milênio.
Como sua expansão, o império passou a incluir pessoas de uma variedade de culturas e a adoração de um número cada vez maior de divindades era tolerada e aceita. O governo imperial, e os romanos em geral, tendiam a ser tolerantes com a maioria das religiões e cultos, desde que eles não causassem problemas. A liturgia e cerimônias romanas foram frequentemente adaptadas para atender a cultura e a identidade local.
Um indivíduo podia atender a ambos os deuses romanos, representando a sua identidade romana, e sua própria fé pessoal, que era considerada parte da sua identidade pessoal. Houve perseguições periódicas de várias religiões em várias épocas, principalmente em relação aos cristãos. Como o historiador Edward Gibbon observou, no entanto, a maioria das histórias registradas de perseguições contra os cristãos vieram até hoje através da igreja cristã, que tinha um incentivo para exagerar o grau em que as perseguições ocorreram. As fontes não-cristãs contemporâneas apenas mencionam perseguições passageiras e sem atribuir grande importância para elas.
Embora o latim tenha continuado a ser a língua mais falada no Ocidente até a queda de Roma e por alguns séculos depois, no Oriente a língua grega era a língua literária e a língua franca. Os romanos geralmente não tentaram suplantar as línguas locais. Eles geralmente deixaram costumes estabelecidos intactos e só gradualmente introduziam elementos culturais tipicamente romanos, incluindo a língua latina. Juntamente com o grego, muitas outras línguas de tribos diferentes foram usadas, mas quase sem expressão na escrita.
O grego já era falado em muitas cidades no Oriente, e, como tal, os romanos eram mantiveram-na como a língua administrativa oriental ao invés de impedir a sua eficiência burocrática. Assim, dois secretários oficiais serviam no tribunal do Império Romano, um responsável pela correspondência em latim e outro pela correspondência em grego para o Oriente. Assim, na Província Oriental, como aconteceu com todas as províncias, as línguas originais foram mantidas.
Além disso, o processo de helenização alargou o âmbito do idioma grego durante o período romano, sendo que os romanos perpetuaram a cultura helênica, mas com toda a pompa de melhorias romanas. A propagação da cultura helênica (e, portanto, da linguagem) aconteceu em grande parte devido à extensa infra-estrutura romana (na forma de entretenimento, saúde, educação e extensas redes de transporte) e pela tolerância dos romanos em incluir outras culturas, uma característica que os diferenciavam da natureza xenófoba dos gregos antigos
Os poderes do imperador (seu imperium) existiam, ao menos em teoria, em virtude de seus "poderes tribunícios" (potestas tribunicia) e seus "poderes proconsulares" (imperium proconsulare). Em teoria, os "poderes tribunícios" (que eram similares àqueles do tribuno do povo na república tornavam a pessoa e ofício do imperador sacrossantos, e lhe davam autoridade sobre o governo civil romano, inclusive o poder de presidir e controlar o senado.
Os poderes proconsulares (similar àqueles dos governadores militares, ou procônsules, na república) davam-lhe autoridade sobre o exército romano. Ele também tinha poderes que, na república, eram reservados ao senado romano e às assembleias romanas, inclusive o direito de declarar guerra, ratificar tratados e negociar com líderes estrangeiros.
O imperador também tinha autoridade para conduzir um conjunto de deveres que tinham sido conduzidos pelos censores, incluindo o poder de controlar os membros do senado. Adicionalmente, o imperador controlava a religião, uma vez que, como imperador, ele era sempre pontifex maximus e membro de cada uma das quatro amiores congregações. Enquanto estas funções eram claramente distinguíveis no início do império, com o tempo foram perdidas e o poder do imperador tornou-se menos constitucional e mais monárquico.
Realmente, o maior apoio do poder do imperador era o exército. Pago pelo tesouro imperial, os legionários prestavam anualmente juramento de lealdade ao imperador, chamadosacramentum.
A morte de um imperador iniciava um período de incerteza e crise. Em teoria, o senado devia escolher o novo imperador, mas a maioria dos imperadores escolhia seu próprio sucessor, usualmente um membro de sua família. O novo imperador tinha que buscar um conhecimento de seu novo status e autoridade, de forma a estabilizar o cenário político. Nenhum imperador podia ter esperança de sobreviver, muito menos de reinar, sem a aliança e lealdade da guarda pretoriana e das legiões. Para assegurar sua lealdade, vários imperadores lhes pagavam o donativum, uma recompensa monetária.
Embora as assembleias romanas da época da república continuassem a existir depois da fundação do império, seus poderes foram todos transferidos ao senado, e assim os decretos senatoriais (senatus consulta) adquiriram total força de lei.
Em teoria, o imperador e o senado eram dois ramos iguais do governo, mas a autoridade real do senado era pequena e mais um meio de o imperador disfarçar seus poderes autocráticos sob um manto de republicanismo. Ainda que prestigiado e respeitado, o senado era uma instituição glorificada que tinha sido subtraída da maioria de seus poderes e ficava à mercê do imperador.
Muitos imperadores mostraram certo grau de respeito com esta antiga instituição, enquanto outros foram notórios por ridicularizá-la. Durante as seções do senado, o imperador sentava entre os dois cônsules e usualmente atuava presidindo as seções. Senadores mais prestigiados falavam antes dos demais, embora o imperador pudesse falar a qualquer tempo. Por volta do século III, o senado tinha sido reduzido a um órgão municipal glorificado.
Nenhum imperador poderia governar sem a ordem senatorial e sem a ordem equestre. A maioria dos postos importantes do governo era reservada para os membros dessas duas ordens aristocráticas. Era entre elas que governadores provinciais, comandantes de legiões e oficiais similares eram escolhidos.
Estas duas classes eram hereditárias e majoritariamente fechadas a novos membros. Indivíduos de muito sucesso podiam entrar, mas esta era uma ocorrência rara. As carreiras dos jovens aristocratas eram influenciadas pelas suas conexões familiares e pelo favor dos patronos. Tão importante quanto habilidade, conhecimento ou competências, o patronato era considerado vital para uma carreira de sucesso e os postos mais altos requeriam o favor e a confiança do imperador.
Era esperado que os filhos de senadores seguissem o cursus honorum, um meio de ascensão, e as posições mais prestigiadas eram restritas somente a senadores. Também se esperava que um senador fosse rico; um dos requisitos básicos era a posse de doze mil áureos(cerca de 100 kg de ouro), uma quantia que seria aumentada nos séculos seguintes.
Abaixo da ordem senatorial estava a ordem equestre. Os requisitos e postos reservados a esta classe, embora não tão prestigiados, ainda eram muito importantes. Alguns postos vitais, como o governo do Egito, eram proibidos aos membros da ordem senatorial e permitidos somente a membros da ordem equestre.
Durante e depois da guerra civil, Otaviano reduziu o enorme número de legiões (acima de 60) a um tamanho muito mais gerenciável e acessível (28). Várias legiões, particularmente aquelas de lealdade duvidosa, foram simplesmente dissolvidas. Outras legiões outros foram amalgamadas, um fato sugerido pelo título Gemina (gêmeo).
Em 9 d.C., tribos germânicas eliminaram três legiões na Batalha da Floresta de Teutoburgo. Este evento desastroso reduziu o número das legiões a 25. O total de legiões voltaria a aumentar posteriormente e nos próximos trezentos anos manteve-se por volta de trinta.
Augusto também criou a guarda pretoriana: nove coortes ostensivas para manter a paz pública, que foram guarnecidas na Itália. Melhor remunerados do que os legionários, a pretorianos também serviam menos tempo: em vez de servir o padrão de 25 anos dos legionários, eles se aposentavam após 16 anos de serviço.
Mesmo as auxilia (em português: apoio) não sendo tão famosas quanto as legiões, foram de grande importância para o império. Ao contrário dos legionários, os auxilia foram recrutados entre os não-cidadãos. Organizados em unidades menores com a força bruta dos coortes, recebiam pagamentos piores do que os dos legionários e depois de 25 anos de serviço eram recompensados com a cidadania romana, que também se estendia a seus filhos. De acordo com Tácito, havia tantos auxilias quanto legionários. Enquanto que neste momento havia 25 legiões de cerca de 5.000 homens cada uma, os auxilia tinham cerca de 125.000 homens, o que implica cerca de 250 regimentos auxiliares.
A marinha romana (em latim: classis, lit. "frota".), não só ajudava no fornecimento e no transporte das legiões, mas também ajudaram na proteção das fronteiras nos rios Reno e Danúbio. Outra das suas funções era a proteção das rotas marítimas de comércio mais importantes contra a ameaça dos piratas. Por isso, patrulhava todo o Mediterrâneo, partes do Atlântico Norte (costa da Hispânia, Gália e Britânia) e teve também uma presença naval no mar Negro. No entanto, o exército foi considerado o ramo mais antigo e mais prestigiado das forças militares romanas.
Nos velhos tempos da república, o governo das províncias era tradicionalmente um prêmio aos membros da classe senatorial . As reformas de Augusto mudaram essa política.
Augusto criou as províncias imperiais. A maioria, mas não todas, as províncias imperiais eram conquistas relativamente recentes localizadas nas fronteiras. Desta forma, a maioria esmagadora das legiões, que estavam estacionadas na fronteiras, estavam sob controle imperial direto. Muito importante era a província imperial do Egito (atual Egito), o "celeiro" do império, cujo suprimento de grãos era vital para alimentar o povo em Roma. Era considerado domínio pessoal do imperador e senadores eram proibidos até mesmo de visitar a província. O governador do Egito e os comandantes de qualquer legião lá estacionada não eram membros do senado, mas eram escolhidos pelo imperador entre os membros da ordem equestre.
A política tradicional continuou largamente utilizadas nas províncias senatoriais. Devido à sua localização, longe das fronteiras, e ao fato de que estavam há mais tempo sob soberania e controle romanos, estas províncias estavam há muito pacificadas e estáveis. Uma única legião estava baseada em uma província senatorial: Legio III Augusta, estacionada na província senatorial da África (atual norte da Argélia).
O status de uma província podia mudar de senatorial a imperial e vice-versa. Aconteceu várias vezes durante o reinado de Augusto. Outra tendência era a criação de novas provícias, ou pela divisão das existentes ou pela expansão do império.
Os romanos notabilizaram-se como pioneiros na engenharia e construção de sofisticadas infraestruturas como canalizações, aquedutos, estradas e pontes.As obras estenderam-se por todo o império, cujo sucesso se deveu em grande parte à extensa rede viária. Além do saneamento básico, as infraestruturas incluiam equipamentos como termas, fóruns, teatros, anfiteatros e monumentos.
As estradas romanas foram vitais para ligar Roma a todo o império. A primeira via foi criada em 312 a.C. por Ápio Cláudio Cego, para ligar Roma à cidade de Cápua: a Via Ápia. À medida que o império se expandiu, a administração adaptou o mesmo esquema nas províncias. No seu apogeu, a rede viária romana atingiu cerca de 400.000 km de estradas, 80.500 km das quais pavimentadas. Enquanto outras civilizações mediterrânicas fundaram o seu desenvolvimento comercial nos portos, os romanos utilizaram a rede de estradas em paralelo com a frota comercial. Isto favoreceu os intercâmbios no interior continental, provocando uma expansão mercantil fulgurante. Regiões inteiras especializaram-se e comerciaram entre si (vinhos e azeite na Hispânia, cereais na Numídia, cerâmicas e carnes na Gália, por exemplo).
As estradas estavam balizadas por marcos miliários (miliarium) colocados em intervalos de cerca de mil passos (1480 metros). Na rede viária romana funcionava também um vasto sistema de correiro, o cursus publicos regulamentado por lei, que garantia a transmissão de notícias, a viagem dos funcionários e o transporte de bens em nome do estado. O Estado mantinha as mutationes (postos de troca de animais) e as mansiones ou stationes (escalas com estalagens e instalações para viajantes). A extensão e funcionalidade da rede de estradas romanas perdurou muito além do fim do império, com muitas estradas actuais seguindo o seu traçado.
Aquedutos construídos por todo o império abasteciam as explorações agrícolas e as cidades com água potável. O escoamento era geralmente com superfície livre, apresentando uma inclinação mínima para que a água pudesse correr, e eram edificados em alvenaria. O atravessamento de vales era feito sobre estruturas em arcaria. Contavam ainda com a ajuda de bombas hidráulicas.
As águas residuais eram recolhidas numa sofisticada rede de esgotos, de que é exemplo a cloaca Máxima, em Roma, uma das mais antigas redes de esgotos do mundo, construída em Roma nos finais do século VI a.C., iniciada por Tarquínio Prisco, que usufruía da experiência desenvolvida pela engenharia etrusca para drenar os esgotos para o rio Tibre. O funcionamento da cloaca Máxima e outras redes de esgotos romanas, como a de Eboracum(actual cidade inglesa York) prosseguiu durante bastante tempo após a queda do Império Romano.
O desenvolvimento dos aquedutos facilitou construção generalizada de termas (as thermae) e balneários (balneae) no império. Estes locais destinados aos banhos públicos asseguravam a higiene corporal e a hidroterapia. As mais antigas termas romanas conhecidas datam do século V a.C. em Delos e Olímpia, embora as mais conhecidas sejam as termas de Caracala. Homens e mulheres tomavam banhos diariamente (à tarde depois do trabalho), costume relacionado a assimilação do culto à deusa grega Hígia (equivalente romana: Salus) e Panaceia, filhas de Esculápio, deusas da saúde e limpeza, como a recomendações da medicina hipocrática continuada pelos romanos.
A invenção do concreto (betão) como material de construção foi uma importante evolução no Império Romano, quando se descobriu as pozolanas, cinzas vulcânicas nas imediações do Vesúvio que finamente trituradas e misturadas com cal produziam uma argamassa resistente e duradoura. Descobertas as suas propriedades ligantes, os romanos fizeram uso alargado das pozolanas, utilizando-as na feitura do opus coementicium (o cementizio), uma argamassa criada pela mistura de pozolanas com cal (tipicamente na proporção de 2:1) imediatamente antes da adição de água. Esta argamassa constitui um ligante suficientemente poderoso para construir grandes estruturas, como pontes, cúpulas e vigas longas, com a particularidade de ganhar presa mesmo quando submersa. Exemplos da sua utilização são a cúpula do Panteão de Roma e os molhes do porto romano de Cosa. A utilização das argamassas pozolânicas perdeu-se com a desagregação do Império Romano, mas foi retomada a partir do Renascimento.
A invenção e aplicação generalizada de mineração hidráulica, auxiliada pela capacidade romana de planejar e executar operações de mineração em grande escala, permitiu a extração de vários e metais preciosos de modo proto-industrial.
Por ano, a produção total de ferro era estimada em 82.500 toneladas, assumindo uma capacidade produtiva de c. 1,5 kg per capita. O cobre foi produzido a uma taxa anual de 15.000 toneladas e chumbo em 80.000 toneladas, ambos os níveis de produção não seriam emparelhados até a Revolução Industrial; a Hispânia sozinha tinha 40% de quota de produção de chumbo mundial. A alta saída de chumbo foi um subproduto da extensa mineração de prata que atingiu um montante de duzentas toneladas por ano. Em seu pico, por volta do século II a.C., o estoque romano de prata é estimado em 10.000 toneladas, de cinco a dez vezes maior do que a massa de prata combinado da Europa medieval e do Califado por volta do ano 800 d.C. Qualquer uma das principais províncias mineradoras do império produzia tanta prata quanto o contemporâneo Império Han e mais ouro por toda uma ordem de magnitude.
A elevada quantidade de moedas metálicas em circulação fez com que mais dinheiro cunhado estivesse disponível para negociação ou poupança na economia.
O governo imperial era, como todos os governos, interessado na emissão e no controle da moeda em circulação. Cunhar moedas era um ato político: a imagem do imperador da época aparecia na maioria das emissões e moedas eram um meio de mostrar a sua imagem por todo o império. Caracterizados também foram antecessores, imperatrizes, outros membros da família e herdeiros aparentes do imperador. Mediante a emissão de moedas com a imagem de um herdeiro, a sua legitimidade e sucessão futura era proclamada e reforçada. Mensagens políticas e de propaganda imperial, como proclamações de vitória e reconhecimentos de lealdade também apareciam em algumas moedas.
Legalmente somente o imperador e o senado tinham autoridade para cunhar moedas no interior do império. No entanto a autoridade do senado era principalmente e apenas no nome. Em geral, o governo imperial emitia moedas de ouro e prata, enquanto o senado emitia moedas de bronze marcadas pela legenda "SC", abreviação de Senatus Consulto ("por decreto do senado"). No entanto, moedas de bronze poderiam ser emitidas sem essa legenda. Algumas cidades gregas foram autorizados a emitir moedas de prata e bronze, que hoje são conhecidos como o "Imperiais Gregas". Casas da moeda imperiais estavam sob o controle de um ministro-chefe financeiro e as emissões provinciais estavam sob o controle dos procuradores imperiais provinciais. As casas da moeda senatoriais eram governadas por funcionários da tesouraria do senado.
A vida no Império Romano girava em torno da cidade de Roma e suas famosas sete colinas. A cidade também tinha vários teatros, ginásios e muitas tabernas, termas e bordéis. Em todo o território sob o controle de Roma, a arquitetura residencial variou de casas muito modestas até vilas rurais e, na cidade capital, elegantes residências no monte Palatino, da qual a palavra "palácio" é derivada. A grande maioria da população vivia no centro da cidade, morando em blocos de apartamentos.
A maioria das cidades e vilas romanas tinham um fórum e templos, assim como a própria cidade de Roma. Aquedutos foram construídos para levar água para os centros urbanos e serviram como uma via para importação de vinho e óleo a partir do estrangeiro. Senhorios geralmente residiam nas cidades e suas propriedades eram deixadas sob os cuidados de dirigentes agrícolas. Para estimular uma maior produtividade do trabalho, muitos proprietários libertaram um grande número de escravos. No reinado de Augusto, escravos domésticos gregos ensinaram os jovens romanos (às vezes até mesmo as meninas). Esculturas gregas adornaram o paisagismo helenístico no Palatino ou nas vilas.
Muitos aspectos da cultura romana foram retirados da cultura grega. Na arquitetura e na escultura, a diferença entre os modelos gregos e romanos são aparentes. As principais contribuições para a arquitetura romana eram o arco e a cúpula.
O centro da estrutura social inicial era a família, que não foi apenas marcado por relações de sangue, mas também pela relação legalmente construída de patria potestas. O pater familiasera o chefe absoluto da família; ele era o mestre sobre sua esposa, seus filhos, as esposas de seus filhos, os sobrinhos, os escravos e os libertos, eliminando os seus bens à vontade ou, até mesmo, colocando-os à morte. Inicialmente, apenas a aristocracia patrícia o privilégio de formação de clãs familiares, ou gens, como pessoas jurídicas; mais tarde, na esteira das lutas políticas e de guerra, os clientes também foram alistados. Assim, tais gentes plebeus foram os primeiros formados, imitando os seus homólogos patrícios.
A escravidão e os escravos eram parte da ordem social. Havia mercados de escravos, onde eles podiam ser comprados e vendidos. Muitos escravos foram libertados pelos mestres por serviços prestados, alguns escravos podiam economizar dinheiro para comprar sua liberdade. Geralmente a mutilação e o assassinato de escravos eram proibidos pela legislação. Estima-se que mais de 25% da população romana era escravizado. O professor Gerhard Rempel doWestern New England College, Estados Unidos, afirma que apenas na cidade de Roma, durante o Império, havia cerca de 400 mil escravos.
A cidade de Roma tinha um lugar chamado Campo de Marte (Campus Martius), que era uma espécie de terra de perfuração para os soldados romanos. Mais tarde, o campo tornou-se uma área de entretenimento. Lá os jovens se reuniram para jogar e se exercitar, o que incluía salto, luta livre, boxe e corridas. Equitação e natação também eram algumas das atividades físicas preferidas. No campo, os passatempos incluíam também a pesca e a caça. Jogos de tabuleiro jogados em Roma incluíam o dado (tesserae ou tali), o xadrez romano (ludus latrunculorum), o damas romano (Calculi), jogo da velha (terni lapilli) e ludus duodecim scriptorum e tabula, antecessores do gamão. Também havia várias outras atividades para manter as pessoas entretidas, como corridas de bigas, performances musicais e teatrais.
A revista estadunidense National Geographic descreveu o legado do Império Romano em O Mundo Segundo Roma:
A influência duradoura romana é refletida difusamente na linguagem, literatura, códigos legais, governos, arquitetura, engenharia, medicina, esportes, artes, entre muitos outros aspectos da vida contemporânea. Muito disso está tão intricado à nossa cultura que mal nos damos conta da nossa dívida com a Roma antiga. Considerando o idioma, por exemplo.
Vários Estados alegaram ser os sucessores do Império Romano, depois da queda do Império Romano do Ocidente. O Sacro Império Romano, uma tentativa de ressuscitar o Império no Ocidente, foi criado em 800, quando o Papa Leão III coroou o rei franco Carlos Magno como imperador romano no dia de Natal, embora o império e o escritório imperial não se tornou formalizada por algumas décadas. Após a queda de Constantinopla, o Principado de Moscou, como herdeiro da tradição ortodoxa cristã do Império Bizantino, proclamava a si mesmo como a Terceira Roma (Constantinopla teria sido a segunda). Estes conceitos são conhecidos como translatio imperii.
Quando os otomanos, que basearam seu Estado no modelo bizantino, tomaram Constantinopla em 1453, Mehmed II estabeleceu sua capital lá e alegou sentar-se no trono do Império Romano. Ele foi tão longe a ponto de lançar uma invasão à Itália com o propósito de "reunificar o império", embora os exércitos papal e napolitano tenham parado a sua marcha para Roma em Otranto em 1480. Constantinopla somente foi oficialmente renomeada para Istambul em 28 de março de 1930.
Excluindo esses estados que reivindicam a herança romana, se a data tradicional para a fundação de Roma for aceita como verdadeira, pode-se dizer que o Estado romano durou, em alguma forma, de 753 a.C. até a queda em 1461 do Império de Trebizonda (um Estado sucessor e fragmento do Império Bizantino, que escapou da conquista pelos otomanos em 1453), totalizando 2.214 anos de existência. O impacto romano sobre as civilizações ocidental e Oriental existe até os dias atuais. Com o tempo, a maioria das conquistas romanas foram duplicadas por civilizações posteriores. Por exemplo, a tecnologia do cimento foi redescoberta por John Smeaton 1755-1759.
O império contribuiu com muitas coisas para o mundo, como um calendário com anos bissextos, as instituições do cristianismo e aspectos da moderna arquitetura do neoclassicismo e bizantina. O extenso sistema de estradas que foi construído pelo exército romano dura até hoje. Devido a esta rede de estradas, o tempo necessário para viagens entre os destinos na Europa não diminuiu desde a Antiguidade até o século XIX, quando a energia a vapor foi aplicada aos transportes. Mesmo a astrologia moderna veio a nós diretamente dos romanos.
O Império Romano também contribuiu com sua forma de governo, o que influencia constituições diferentes, incluindo as da maioria dos países europeus e muitas das ex-colônias europeias. Nos Estados Unidos, por exemplo, os autores da constituição observaram, na criação da presidência, que eles queriam inaugurar uma "Era Augusta". O mundo moderno também herdou o pensamento jurídico de direito romano, totalmente codificada na antiguidade tardia. Regendo um vasto território, os romanos desenvolveram a ciência da administração pública de um modo nunca antes concebido ou necessário, criando um amplo serviço civil e métodos formais de cobrança de impostos.
Enquanto no ocidente, o termo "romano" adquiriu um novo significado em conexão com a Igreja e o Papa de Roma. A forma grega romaioi permaneceu ligada à população cristã de língua grega do Império Romano do Oriente e ainda é usada pelos gregos, além de sua denominação comum.
O legado territorial do Império Romano de controlar a península Itálica serviria como uma influência para o nacionalismo italiano e a unificação (Risorgimento) da Itália em 1861